sábado, 25 de dezembro de 2010

Espírito Natalino

Por Carine Gonçalves

É Nata!! Natal é um tempo de paz, perdão, amor... É o dia do ano em que as famílias se reúnem, que as mulheres se unem para fazer a ceia mais farta e gostosa, que os homens arrastam móveis, penduram enfeites e preparam as melhores estórias para serem contadas à mesa.

Hum... Será mesmo?

Primeiro de tudo, eu nunca entendi isso de espírito natalino. Dizem por aí que é porque no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, filho de Deus, que veio para nos salvar. O Natal é tão importante para as pessoas que se alguém fica doente, sofre um acidente ou morre nesse dia, os outros logo falam "Nossa, coitada da família dele(a)! Foi acontecer logo no Natal!". O que eu não entendo é porque esse espírito natalino bondoso não está presente durante todo o ano. Tivemos que arrumar uma data que agregasse comida, sobremesas, vinho e presentes para que mudássemos alguma coisa, pelo menos em um mísero momento do ano.

Mas aí eu vou ter que repetir: Hum... Será mesmo?

O Natal, para muitas pessoas, passou a ser uma data que vai te trazer só aquela dor nas costas à noite. O dia em que você trabalha, briga com os parentes, se irrita porque as lojas não estão abertas. O Natal ainda é um dia em que você tem rancor de coisas que já passaram. Ainda é o dia que você se irrita se é mal atendido em um restaurante. E você ainda xinga aquele motorista que está a 60km/h na Linha Vermelha.

O que eu quero dizer é que nada mudou. Muito pouca gente se lembra do que é realmente comemorado hoje, o que está além dos presentes, da rabanada e do pavê. Eu disse no início que não entendia esse negócio de espírito natalino. Mas agora eu penso que o Natal é a maior esperança de fazer com que as coisas mudem realmente. Se o espírito natalino fosse real, e não essa encenação de "hoje eu to bonzinho", e se levasse em consideração os ideais Daquele de quem hoje é o dia, então toda essa festividade teria um fundamento. As pessoas precisam de uma motivação para serem boas, pois que venha o Natal!

Um Feliz Natal! Sem brigas, sem rancor, sem nervosismo, sem impaciência e, acima de tudo, sem encenação. Além do tradicional "saúde e paz", desejo a todos uma "boa mudança".

domingo, 19 de dezembro de 2010

O caso FOXP2

Quando pequenas alterações provocam grandes mudanças

Por Bruno Tinoco Nunes

Quando as sequências dos genomas de humanos chimpanzee chimpanzés foram comparadas, um fato incômodo emergiu: nossas cópias de DNA são 99% idênticas às deles. Das 3 bilhões de letras que compõem o genoma humano, apenas 15 milhões - menos de 1% - passaram por mudanças em aproximadamente 6 milhões de anos, desde que as linhagens de humanos e chimpanzés divergiram1.

A genética evolutiva nos mostra que a vasta maioria dessas mudanças tem pouco ou nenhum efeito em nossa biologia. Mas, em algum lugar nessa base aproximada de 15 milhões de variações estão as diferenças que nos fazem humanos.

A aceleração na taxa de mudança em alguma parte do genoma evidencia seleção positiva, situação em que mutações que auxiliem um organismo a sobreviver e se reproduzir têm mais chances de serem transmitidas às futuras gerações. Em outras palavras, aquelas regiões do genoma que passaram pelas maiores modificações, desde a separação entre chimpanzés e humanos, são as sequências que mais provavelmente moldaram a espécie humana. O gene FOXP2, associado à linguagem, é um exemplo2.

A linguagem articulada é uma característica exclusivamente humana e provavelmente foi o principal fator que impulsionou o desenvolvimento da cultura em nossa espécie. A habilidade para falar depende de capacidades como controle da laringe e da boca, cujo potencial se encontra ausente entre os chimpanzés e outros primatas. O gene FOXP2 se mostrou de extrema relevância para a habilidade humana de falar. Pessoas que nascem com uma mutação neste gene sofrem distúrbios de fala, compreensão e processamento de linguagem3.

O gene FOXP2 é um tipo de fator de transcrição, isto é, seu papel está em colaborar na regulação da expressão de outros genes4. Em comparação a outros primatas, o FOXP2 humano exibe duas alterações cruciais em um domínio conservado evolutivamente na sequência de aminobebes conversandoácidos oriunda deste gene. Estudos recentes compararam a atividade das proteínas codificadas pelo FOXP2 humano e pelo FOXP2 de chimpanzé e verificaram que elas acionam cascatas diferentes de genes, apesar de suas sequências diferirem em apenas dois aminoácidos. Embora pareça sutil, essa mudança na sequência de eventos pode ser suficiente para levar ao desenvolvimento de um sistema de linguagem única nos humanos, associada à capacidade de falar5,6,7

Apesar da grande proximidade evolutiva entre os grupos de primatas, os seres humanos apresentam notórias peculiaridades, sendo a linguagem uma das mais marcantes.

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Árvore gerada no programa MEGA8 pelo método Neighbour Joining. Os números próximos aos nós dos ramos representam valores de bootstrap.

A sequência em questão está presente em vários outros grupos de vertebrados, desde aves e répteis até em peixes, com raras alterações na sequência de aminoácidos, sendo esta bastante conservada em quase todos esses organismos. Em humanos, no entanto, análises bioinformáticas indicaram mudanças aceleradas e pontuais de valor significativo na função biológica do gene. Tal fato fez com que este fator de transcrição pudesse atuar na regulação de diferentes genes se comparado à atuação da sequência ortóloga em chimpanzés, ou seja, a mesma região do genoma que um dia foi compartilhada por um ancestral comum.

Desta forma, podemos concluir que durante os cerca de 6 milhões de anos desde que a nossa linhagem divergiu da dos chimpanzés, FOXP2 acumulou mudanças que, ao lado de outras não menos relevantes, moldaram a espécie humana como a conhecemos. Possivelmente este gene sofreu seleção positiva porque o ato de nos comunicarmos por uma linguagem articulada conferiu aos nossos antepassados uma grande vantagem em relação aos que nos eram contemporâneos, permitindo que a sequência em questão pudesse acumular um maior número de mutações e estas fossem rapidamente se espalhando entre as populações de hominídeos. FOXP2 é um exemplo de como pequenas alterações no genoma dos organismos podem torná-los tão diferentes quando comparados a grupos próximos.

Referências bibliográficas

1. Chimpanzee Sequencing and Analysis Consortium. Initial sequence of the chimpanzee genome and comparison with the human genome. Nature. 2005 Sep 1;437(7055):69-87.

2. Zhang J, David M. Webb and Podlaha O. Accelerated Protein Evolution and Origins of Human-Specific Features: FOXP2 as an Example. Genetics 162: 1825–1835 (December 2002)

3. Konopka G, Bomar JM, Winden K, Coppola G, Jonsson ZO, Gao F, Peng S, Preuss TM, Wohlschlegel JA, and Geschwind DH. Human-Specific Transcriptional Regulation of CNS Development Genes by FOXP2. Nature 2009 November 12; 462(7270): 213–217. doi:10.1038/nature08549.

4. Teramitsu I, Poopatanapong A, Torrisi S, White SA (2010) Striatal FoxP2 Is Actively Regulated during Songbird Sensorimotor Learning. PLoS ONE 5(1): e8548. doi:10.1371/journal.pone.0008548

5. Enard W, Przeworski M, Fisher SE, Lai CS, Wiebe V, Kitano T, Monaco AP, Pääbo S. Molecular evolution of FOXP2, a gene involved in speech and language. Nature. 2002 Aug 22;418(6900):869-72. Epub 2002 Aug 14.

6. Coop G, Bullaughey K, Luca F, Przeworski M. The timing of selection at the human FOXP2 gene. Mol Biol Evol. 2008 Jul;25(7):1257-9. Epub 2008 Apr 15.

7. Lieberman P. FOXP2 and Human Cognition. Cell. 2009 May 29;137(5):800-2.

8. Tamura, K., Dudley, J., Nei, M. and Kumar, S. (2007) Mega4: Molecular Evoltionary Genetics Analysis (Mega) Software Version 4.0. Mol. Biol. Evol. 24, 1596-1599.

sábado, 2 de outubro de 2010

quinta-feira, 8 de julho de 2010

domingo, 18 de abril de 2010

Pensamentos e Pensadores

"A chave para o avanço da ciência está em explicar a complexidade visível por meio de alguma simplicidade invisível."

Jean Perrin, físico francês, ganhador do Prêmio Nobel de 1926

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Ensaio sobre a cegueira

Por Gustavo Miranda

“Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos.”
José Saramago

O título desse texto é referente a uma das grandes obras do escritor português José Saramago, que usa a cegueira para demonstrar, entre outras coisas, “que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso”. Para quem não teve contato com a história, abaixo segue o trailer do filme para se ter uma idéia do que se passa.

Minha intenção não é escrever uma resenha do livro ou tecer comentários a respeito do filme de Fernando Meirelles. Venho aqui apenas colocar um fio de cabelo para fora do mar de injustiças que inunda nossa sociedade, na tentativa de denunciar o que há tempos é conhecido: o descaso a que os cidadãos da cidade do Rio de Janeiro são submetidos devido à infindável falta de vergonha na cara de nossos governantes.
Na história de Saramago, as pessoas ficam cegas por uma doença misteriosa e contagiosa. Os personagens não possuem nome, e gradativamente todos vão perdendo a visão após contato uns com os outros. Incrivelmente, essa realidade é muito parecida com a que vivemos hoje, porém, no nosso mundo os cegos possuem nome e são chamados conjuntamente de eleitores. Somos nós quem colocamos essa forja de corruptos no poder e fingimos não ver o dinheiro dos impostos passar por debaixo dos panos e cair na conta deles; fortunas viajando em meias, cuecas e malas de sem-vergonhice; verbas de escolas e hospitais sendo usadas para construir mansões e castelos; e benefícios, quando acontecem, sempre ocorrendo em bairros privilegiados e de grande visibilidade pela mídia. Enquanto isso o resto da cidade se torna o exemplo de caos sempre que cai uma chuva mais forte .
De forma semelhante à obra, essa cegueira é contagiosa, porém no nosso caso ela é ainda mais grave por ser crônica. Várias são as gerações que vêem a Praça da Bandeira virar mar, Marechal Hermes ficar debaixo d’água, encostas por toda a cidade desabarem matando dezenas e por vezes centenas de pessoas, e nunca nada muda. Em época de eleição promessas invadem nossas casas, porém passada a votação, é a velha e conhecida água que volta a inundar os lares.
No conto de Saramago, a falta de visão faz com que a população viva na desordem e na sujeira, algo não muito diferente do que vemos em nosso dia a dia. Os cidadãos dessa cidade acometidos por cegueCHUVA RIO 06-04-2010 (2)ira e por total falta de educação, jogam todo o seu lixo na rua e nos rios que os circundam. Tudo o que não lhes serve vai parar nas calçadas e no fundo dos rios, desde papeis, sacos plásticos e caixas, até geladeiras, sofás, carros e armários. Com a chuva acontece o óbvio: os rios transbordam e o caos se estabelece. Nosso governo é como a única pessoa não acometida pela cegueira na história, porém, de forma diametralmente oposta, esse único olho que enxerga, vê somente seu próprio benefício e se esquece de toda a população que vive debaixo d’água.
Há algumas décadas se espera que a nossa história tenha um desfecho tão feliz quanto o do filme (ou do livro), e que todos possam, a partir de um pequeno esforço, enxergar a realidade que nos assola. Que soluções efetivas sejam tomadas, como melhorias na rede de esgotos, retirada de lixo com maior freqüência dos rios, ou, melhor ainda, a educação da população para não encher nossa cidade de lixo; contenção das encostas antes que elas desabem (pois só se dá devida atenção depois que os desastres acontecem), entre muitas outras medidas que podem e devem ser tomadas o mais rápido possível. Esperamos sinceramente que soluções paliativas e infundadas deixem de ser tomadas pelo Governo, que aplica nosso dinheiro numa espécie de fé, ou mandinga, ou macumba, ou qualquer outra coisa que isso possa ser, como a contratação da Fundação Cacique Cobra Coral  que, semelhante às atitudes deles, não consegue resolver problema algum.

terça-feira, 30 de março de 2010

A ciência esquecida de Leon Croizat

Por Gustavo Miranda

Atualmente, o grau de qualidade de um pesquisador é medido pela quantidade de artigos científicos publicados e se pelo menos alguns deles foram feitos em revistas de alto faLeon_Croizat 1964tor de impacto. Quase que comprovadamente, quem possui muitas publicações é considerado um pesquisador de grande qualidade e renome no meio científico, enquanto que  o contrário, não tem tanto impacto assim. Muitas vezes isso pode ser considerado verdade, uma vez que os vários órgãos de fomento à pesquisa fazem com que quase todos tenham dinheiro suficiente para conduzir seus trabalhos, e, com isso, produzir resultados. Uma pessoa pobre ou de classe média que sozinha nunca conseguiria conduzir uma vida de cientista por ter que trabalhar e sustentar uma família ou a si mesmo, com esse tipo de apoio financeiro é capaz de alcançar o mundo acadêmico, contando é claro com muito esforço e um pouco de sorte.

Numa época não muito distante da nossa, em meados do século XIX, a quantidade de publicações muitas vezes não condizia com a qualidade do pesquisador. O valor científico dos manuscritos é que revelava a qualidade do cientista. Prova incontestável disso foi Charles Darwin, que em sua vida, além de publicar o livro A origem das espécies, escreveu pouco mais do que sobre cracas, movimento das plantas e minhocas. Porém, pela revolução causada por sua teoria (a da seleção natural), Darwin passou a ser um dos ícones da Biologia, muito mais que Alfred Russel Wallace, o outro autor da mesma teoria que, entretanto, é o primo pobre da história.

Como o ano da teoria da evolução já passou, podemos trocar um pouco de assunto e adentrar outros campos da Biologia. Apesar de a área de estudo mudar, o apreço por cientistas com muitas publicações e possuidores de uma condição monetária elevada continua. Leon Croizat foi uma das vítimas dessa injustiça acadêmica. Nascido na Itália em 1894, filho de comerciantes, e apaixonado pelas ciências naturais, Croizat não pôde seguir o natural caminho de um estudante para a universidade. Em 1914 foi convocado para servir o exército italiano na primeira guerra mundial.

Passada  a guerra de trincheiras, Croizat pôde finalmente entrar na universidade graças a condições especiais dadas a veteranos de guerra, graduando-se em direito na universidade de Turim. Em 1922, época em que se preparava para fazer seu PhD e finalmente estudar as ciências naturais, foi forçado a abandonar seu país por razões políticas devido ao fascismo introduzido na Itália.

Em 1923, Croizat se instala nos Estados Unidos e enfrenta a severa realidade de um imigrante. Durante consideráveis quinze anos, realiza tcroizatphotorabalhos precários e passa por tempos difíceis até finalmente conseguir um  trabalho temporário na Universidade de Harvard. Ele tinha a função de mapear o terreno de Arboreto Arnold, localizado na própria universidade, trabalho este que foi a porta de entrada de Croizat na carreira científica. Terminado o mapeamento ele conseguiu um emprego de assistente técnico na instituição. Nos horários livres, se deleitava em uma das maiores coleções de plantas do mundo e uma das mais magníficas bibliotecas do planeta. Aos quarenta e quatro anos, Leon Croizat finalmente iniciava seu tão sonhado estudo do mundo natural.

Croizat mergulhou profundamente no estudo da botânica, sozinho e sem orientação. Conhecia por autodidatismo todas as línguas importantes da época e decidiu entender todo o pensamento da botânica ocidental desde seu início no século XVII. Comprometeu-se ainda a entender os padrões de distribuição geográfica de todas as plantas do mundo. Dedicou-se a esse trabalho durante dez anos (1938 a 1947) e anotava tudo o que lia, pensava ou percebia em diversos cadernos, que no final de sua pesquisa se espalhou por nada menos que quatrocentos volumes.

Com esse estudo, Croizat pôde analisar a distribuição de praticamente toda diversidade vegetal conhecida na época e comparar seus resultados com a distribuição de outros grupos, como minhocas, moluscos e aves. Logo ele percebeu que haviam padrões de distribuição repetidos entre as biotas. Na época, a idéia dominante era a do dispersionismo que propunha que os organismos tinham um centro de origem e desse ponto se dispersavam para outros lugares do planeta, sendo sua distribuição atual o resultado dessa dispersão. Porém, sua percepção foi além do senso comum.

Croizat se questionava como espécies de organismos com biologia e ecologia tão diferentes, seguiam padrões de dispersão tão semelhantes. Sua conclusão se baseouCROIZAT tectônica de placas numa mudança revolucionária de perspectiva. Ele concluiu que não eram as biotas que se moviam juntas entre os continentes, mas os continentes que se moviam carregando as biotas consigo. Sua idéia deu grande suporte a teoria de Wegener da deriva continental, que na época estava em profundo descrédito. Indiretamente, Croizat conseguiu apenas com dados biológicos, provar uma teoria da geologia.

Prestes a completar dez anos em Harvard e conseguir estabilidade em seu cargo no emprego, Croizat foi demitido. Com isso, esvaiu-se sua chance de publicar a idéia pela universidade. Novamente encontrava-se sem emprego, sem diploma de biólogo, sem publicações, mas desta vez, com uma idéia revolucionária. Suas qualificações não o reputavam o bastante para conseguir bom emprego. Por sorte, conseguiu cargo como professor na universidade de Caracas, na Venezuela. Sua primeira posição acadêmica conseguida aos cinquenta e três anos.

Em Caracas, Croizat pôde finalmente colocar seus pensamentos  em ordem. Croizat's panbiogeograpy LIVROEle postulava que as biotas atuais derivam de biotas ancestrais que se dividiram em resposta a mudanças geográficas, produzindo espécies vicariantes. A palavra vicariante tem sua raiz no italiano e significa representante. Espécies vicariantes já eram reconhecidas desde os tempos de Darwin e Wallace, mas foi Croizat quem fez uma análise das biotas como um todo. Sua tão revolucionária visão foi então denominada por ele mesmo de pan-biogeografia (biogeografia do todo). Ele não considerava sua idéia uma teoria, mas sim um método para se estudar padrões biogeográficos.

Dedicou-se então dez anos escrevendo volumosos livros, alinhando sequências de exemplos de variados grupos de plantas e animais, produzindo, finalmente, seu primeiro manuscrito, Panbiogeography, com cerca de mil páginas em três volumes. Porém, como pudemos observar até agora, a sorte não costumava andar muito ao lado de Croizat. Após pronto seu laborioso trabalho, nenhuma editora se interessou em publicar seus livros.

Contudo, devido a sua grande teimosia, Croizat pegou suas sacrificadas economias e publicou o livro de seu próprio bolso no ano de 1958, aos sessenta e quatro anos. No ano de 1964, publicou outro livro também com seu próprio dinheiro chamado Space, time, form: the biological synthesis, referente às suas idéias.

Após esses eventos de sofrido sucesso, Croizat finalmente começou a ser reconhecido na biogeografia mundial e a publicar artigos em revistas, apesar de serem de baixo prestígio. Provavelmente devido a sua adiantada idade, Croizat era avesso a novas idéias. Como exemplo, a teoria da tectônica de placas que surgiu na década de 60, afirmou definitivamente que seu método estava correto, porém, foi terminantemente refutada por ele. O surgimento da sistemática filogenética de Willi Hennig, que somado às suas idéias foi capaz de reconstituir a distribuição atual dos organismos, como fizeram Gareth Nelson, Norman Platnick e Donn Rosen, fazendo surgir a Biogeografia de Vicariância, também não foi aceita por um Croizat já com oitenta anos. Por causa dessas aversões à novidades, é considerado um dos cientista mais controversos da biologia do século XX.

Com isso, a figura de Leon Croizat foi gradualmente sendo ofuscada pelas novas e modernas teorias propostas por Nelson, Platnick, e Rosen o que fez com que a ciência e a história pouco a pouco o esquecesse. Porém, como bem disse Fernando Fernandez em seu livro O Poema Imperfeito, “essa figura serve como um maravilhoso exemplo para nos inspirar neste mundo atual no qual o mérito tantas vezes parece tão pouco valorizado, e os sonhos, tão distantes”.

Referências Bibliográficas:

FERNANDEZ, F., 2004. O poema imperfeito: Crônicas de Biologia, Conservação da Natureza e seus Heróis. Ed. UFPR, 257 pp.

COLACINO, C., 1997. Léon Croizat’s Biogeography and Macroevolution, or … “Out of Nothing, Nothing Comes”. Philipp. Scient. 34 (1997):73-88. (aqui)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ciência para um Aniversário

 

birthday_monkey O blog Devaneios Biológicos vem com grande satisfação anunciar que hoje está completando um ano de existência! Apesar da falta de constância nas postagens devido a diversos fatores (aulas, provas, viagens, falta de inspiração), o blog vem tentando durante esse tempo divulgar um pouco da grande área da Biologia para um vasto público, tanto para o especializado quanto para os não ligados a área.

Gostaríamos de aproveitar para agradecer aos nossos leitores que sempre fazem inteligentes e valiosos comentários, que acrescentam os textos com novos argumentos e ricas observações, e pedir para que, na medida do possível, ajudem a divulgar o blog fazendo com que o laborioso trabalho dos autores não seja em vão, introduzindo cada vez mais pessoas na apreciação da beleza e dos mistérios dessa tão maravilhosa ciência.

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